Rua 27

Com vinte e dois anos, o que mais me emociona são os momentos incríveis que passei na rua  atrás da minha casa. Uma rua que é sem saída e antes não tinha asfalto. O palco perfeito para muitas brincadeiras, como por exemplo, pega-pega, cada macaco no seu galho, esconde-esconde, vôlei, futebol, etc.

Éramos seis mulheres e sete homens, todos mais ou menos da mesma idade e grandes melhores amigos. A rua faz parte da nossa vida, os que não nasceram lá vieram de mudança e foram incorporados ao nosso convívio. Afinal, é maravilhoso conhecer gente nova. Não tinha dia certo para se encontrar com os amigos, era sempre. Depois da escola, era tradição almoçar e correr pra rua. Como moramos próximos, era comum as mães só passarem os olhos pra ver se estava tudo bem. De tarde o cheiro de bolo de fubá da minha vó era o sinal para lanche. Comíamos no meu quintal e conversávamos sobre o nosso dia.

Passávamos mais tempo na rua que em casa. Éramos conhecidos por todos, por nos verem brincando na rua ou por brigar, já que a bola sempre caia na mesma casa. Nos finais de semana podíamos ficar até mais tarde na rua. Fazíamos uma roda e conversávamos ou íamos para rua principal ver o movimento.

Bolávamos todas as festas de aniversários, fazíamos o bolo, os brigadeiros, beijinhos. Enganávamos o aniversariante e a surpresa acontecia. Todo final de ano tinha amigo secreto, só com as crianças. Nosso  grupo era muito organizado e animado.

Até os treze anos, não pensávamos em namorar. Tudo era uma grande brincadeira com muito respeito. Era muito sadio conviver com eles. A adolescência chegou e com ela o meu primeiro amor. Claro que ele pertencia ao meu grupo. E o meu primeiro beijo aconteceu, sim, na Rua 27. Todos se relacionaram, muitos viraram namoradinhos. Mas hoje ao nos encontrarmos só nos cumprimentamos. O que antes era um grupo de grandes amigos hoje são colegas que possuem lembranças maravilhosas de uma infância bem vivida.

Crescemos e nem sabemos como nos afastamos do que realmente foi bom em nossas vidas. Minha melhor amiga é do grupo da Rua 27, mas acho que você percebeu que, o que no começo do texto eram treze melhores amigos, hoje se reduz a uma grande melhor amiga. Não que eu tenha deixado de amá-los, mas seguimos rumos diferentes.

Às vezes reunimos alguns amigos e lembramos como éramos felizes quando crianças, sem preocupações, livres numa rua sem saída. Temos a consciência que nada será como antes, mas nos orgulhamos de como crescemos. O que temos certeza é que nenhuma criança aproveitará a rua como nós. Minha Rua 27, agora, é simplesmente um estacionamento de carros.

2 comentários:

Rejane Santos disse...

Eu amo finais de impacto e não só o seu final como seu texto completo foi impactante! Tive vontade de crescer na Rua 27 também, você leu, né, fui sozinha na minha infância ): UHSUHAUS Beijo :*

Wendy Manfredini disse...

Ah, eu lembro que você me contava as histórias de quando você era pequena e brincava na rua de trás da sua casa.

Tais, juro, fiquei arrepiada com seu texto. Ficou lindíssimo, lindíssimo! Você me mata de orgulho, meu bem. (:


Um beijo enorme!

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