As consequências da Guerra Fria na América Latina: o exemplo do Brasil

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A Guerra Fria polarizou o mundo em dois campos controlados por superpotências que se dividiram em regimes pró-comunistas e anticomunistas, são eles, respectivamente: URSS e EUA. Essa polarização política, econômica e ideológica trouxe consequências importantíssimas aos países da América Latina, como as ditaduras militares e o embargo econômico em Cuba. O objetivo deste ensaio é descrever o processo da Guerra Fria e suas consequências, usando como exemplo o milagre econômico do Brasil.

Segundo Eric Hobsbawm, mal terminava a Segunda Guerra Mundial quando o mundo se viu diante de uma disputa que tornava muito possível uma Terceira Guerra. A Guerra Fria entre os Estados Unidos e a extinta URSS, dominou o cenário internacional na segunda metade do século XX. Famílias inteiras viam seu cotidiano pautado na possível batalha nuclear entre essas duas potências. Mesmo aquele que não acreditava num conflito direto entre os dois países achava difícil ser tão pessimista.
(...) a Guerra Fria que se instalou no mundo após a segunda onda de revolução mundial foi uma disputa de pesadelos. Fossem ou não justificados, os medos do Oriente ou Ocidente eram parte da era de revolução mundial nascida em Outubro de 1917. Mas essa própria era estava para acabar, embora levasse mais quarenta anos para que se pudesse escrever o seu epitáfio. Apesar disso, mudara o mundo, embora não da maneira como esperavam. (HOBSBAWM, 1995).
Os governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de forças no fim da Segunda Guerra. O mundo se dividia em dois, sendo um lado controlado pela URSS, que exercia forte influência na parte comunista do globo. Do outro lado havia os EUA, que controlavam predominantemente o outro lado do mundo capitalista.

A América Latina começa no que geograficamente é a América do Norte e se caracteriza como um continente castigado pela Colonização do século XIX, mais precisamente iniciada em 1492. O continente tem, historicamente, uma dependência econômica, seja por países colonizadores ou mesmo os EUA. Tendo sua colonização caracterizada pela exploração de matéria-prima, na América Latina, tudo sempre foi atrelado ao que a Europa queria no momento e nunca desenvolveram algo sozinhos. Além disso, podemos somar a desigualdade social e a exploração por latifúndio, monocultura e escravismo.

Desde 1823 os EUA já estavam com olho na América Latina, e entendem que são donos dessa região. Na Doutrina Monroe determinaram três princípios gerais, que foram um prelúdio ao que viria a acontecer durante a Guerra Fria: o continente americano não pode ser objeto de recolonização; é inadmissível a intervenção de qualquer país europeu nos negócios internos ou externos de países americanos, e, finalmente; os Estados Unidos, em troca, se absterão de intervir nos negócios pertinentes aos países europeus. Isso já era uma projeção para o futuro, na qual o mundo se dividiria entre EUA e URSS.

No século XIX temos as independências de países da América Latina. Após as independências os países continuam dependentes, pois estavam cheios de dívidas com os países que ajudaram na independência. Inglaterra era um deles, que, por conta da Revolução Industrial, era um país mais desenvolvido, cheio de dinheiro, com necessidades de matéria-prima e demanda.

Lógica de exploração: quem explora é quem é hegemônico naquele momento. Essa era a oportunidade que os Estados Unidos esperavam para se verem donos do continente. A América do Norte estava bem, como sempre. Pois a sua colonização foi de povoamento. Plantavam coisas diversas, pequena propriedade, acúmulo de capital. Quando se tem acúmulo de capital se pode comprar a vontade, assim você expande: economicamente, territorialmente e politicamente.

Entre as décadas de 50 e 80, período áureo da Guerra Fria, o termo “milagre econômico” foi utilizado para caracterizar o crescimento da Alemanha, Itália, Japão, Coréia e Brasil. Nessa fase, a taxa média anual do Brasil foram as mais altas e descontínuas, com média de 8%, entre os anos 1955 e 1960, de 11% entre 6677 e 73, e 6% entre 74 e 80, porém com queda significativa no período de 61/731. (FIORI, 2015).
A lógica da Guerra Fria pesou decisivamente na origem do que chamamos de "milagres econômicos" e na transformação posterior do Brasil, que junto com os países citados acima, era peça central do poder econômico dos Estados Unidos no conflito com a URSS, ao menos na década de 702. (FIORI, 2014).

Os anos 50 ficou conhecido no Brasil como "Anos Dourados" do governo JK. Havia otimismo e forte influência dos Estados Unidos, com financiamentos e incentivo ao investimento de capital norte-americano, além de difusão cultural.

O plano para a América Latina era marcado pelo expansionismo dos EUA através do investimento no comércio unilateral, implantação de grandes empresas multinacionais; fluxo de capital; influência cultural; Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca (TIAR), que consistia no rompimento diplomático entre América Latina e URSS; treinamento de oficiais do hemisfério, cursos com cerca de 60 mil oficiais das forças armadas e polícias da AL para utilização de métodos para forçar a confessar, o uso de sevícias e atemorização psicológica; surgimento da ideologia da segurança nacional.

O Brasil foi aliado dos EUA na Guerra Fria e aceitou a oferta do Acordo Militar Brasil-EUA, em 1952. Com isso, o Brasil se transformou no "pivot" central da estratégia desenvolvimentista norte-americana, para a América do Sul. Essa política foi introduzida pelo governo JK, completamente alinhado com os EUA e o colonialismo europeu. Depois, em 1964, o regime militar ficou no comando. A partir de 64 começou com o Brasil os golpes militares e assim se instaurou o efeito dominó dos golpes militares, Argentina em 1966, Bolívia em 1971 e Uruguai e Chile em 1973.

A partir da relação de ameaças e provocações mútuas entre EUA e URSS, houve um sistema internacional estabilizado. Esse conflito foi decisivo para a relação dos EUA com a América Latina, a partir do posicionamento dos países envolvidos. Cuba foi a única nação do continente americano que adotou o socialismo como sistema político e tinha o apoio da URSS, que importava os principais produtos cubanos, como açúcar, arroz, tabaco, entre outros; além de fornecer subsídios financeiros ao país. Os norte-americanos aceitaram um país da América Latina comunista, porém com ressalvas. A consequência dessa posição foi o embargo imposto pelos EUA, em 1961. O período dos anos 60 e 70 testemunharam medidas para inserir os países latino-americanos nos ideais norte-americanos capitalistas.

José Luis Fiori diz que entre os anos 1968 e 1973 houveram acontecimentos e decisões nos planos econômico e político internacionais que foram responsáveis por uma "inflexão histórica de dimensões universais". Esse foi um período que se encerrou a, chamada por Eric Hobsbaw, em 1994, de "era de ouro" do capitalismo. (FIORI, 1997).

Depois de quase três décadas de “milagre econômico”, o processo foi interrompido pela crise americana de 1970, uma nova mudança política internacional dos Estados Unidos e a reaproximação da China. Assim, os EUA decidem iniciar a desregularão do seu mercado financeiro e iniciam uma lenta construção de um novo sistema monetário internacional.

A estratégia permitiu a desconstrução da URSS e o fim da Guerra Fria, mas desestabilizou a Alemanha, Japão e até mesmo o Brasil, pois esvaziou, segundo Fiori (2012), o papel econômico que foi ocupado por esses países nas primeiras décadas da Guerra Fria. Dessa maneira, o crescimento econômico médio anual caiu entre 1973 3 1990 e o Brasil entrou num longo período de estagnação. Em contrapartida, a China se transformou no novo “milagre econômico” do sistema capitalista.

Na atual conjuntura, o Brasil é muito menos desenvolvido que Alemanha e Japão, porém, tê-lo ainda como aliado é importante pois dispõe de recursos naturais, além de ser autossuficiente na questão alimentar e energética.


Fontes:

FIORI, José Luis. "Globalização e Governabilidade Democrática" In: PHYSIS, Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, UERJ, 1997, pp.137-161.

FIORI, José Luis. Os "milagres econômicos" da Guerra Fria. Publicado em 28 de dezembro de 2012. Disponível em: . Último acesso: 14 de maio de 2015.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Cia das Letras, 1995.

Livro: A Insustentável Leveza do Ser

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Autor: Milan Kundera
Data de publicação: 1984
Editora: Nova Franteira
Páginas: 314


Minha história com esse livro é muito interessante. Porque é dessas obras que todo mundo te manda ler, que é maravilhosa e muda a vida das pessoas. Eu levei fé e decidi marcar como desejado no Skoob. Diretamente foi postado no meu Twitter que gostaria de ler  "Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera. Recebi uma curtida no tweet. Fiquei com aquilo na cabeça.

No dia seguinte, chego no trabalho e me deparo com o livro na minha mesa. O amigo que curtiu meu tweet me trouxe o exemplar. É daqueles amarelados pelo tempo, que precisamos manusear com delicadeza de não se desfaz. Eu fiquei encantada e aquele momento me caiu como um sinal. Era tempo de ler Milan Kundera.

Definitivamente é o título de livro mais bonito que já se viu. É um dos meus favoritos. E me intriga, pois eu não conseguia entender muito bem o que significava isso. Eu tinha que ler esse livro naquele momento. Pois bem.

A história se passa na Primavera de Praga, então Tchecoslováquia, em 1968. Nessa época o país estava dominado pela União Soviética. A consequência desse período na vida dos personagens é retratada no livro. Eles são quatro: Tereza e Tomas, Sabina e Franz, que representam a leveza e peso.

Os quatro personagens representam a dicotomia entre leveza e peso. Encontro de Tereza e Thomas foi uma sucessão de acasos. Thomas não se prende a ninguém e é mulherengo, mas diz amar Tereza. Esta carrega o peso de viver. quer se ligar a alguém e se preocupa com seu corpo.
"O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)."
Sabina mostra a leveza do ser, a liberdade. É a personagem mais leve e sente fascínio pela traição. Não só amorosa, mas com o pai, tradições, regras...
"Mas o que é trair? Trais é sair da ordem. Trair é sair da ordem e partir para o desconhecido. Sabina não conhece nada mais belo que partir para o desconhecido."
Franz é preso a um casamento e trai a esposa com Sabina, mas busca ser livre é o sonhador do romance. Ele busca se envolver com algo, está cansado da sua vida. É um exemplo de leveza insustentável. Não está satisfeito com sua leveza de viver.

Kundera usa a teoria do eterno retorno de Friedrich Nietzsche, que questiona a ordem das coisas. Cita também Parmênides, que no século VI antes de Cristo, dividiu o universo em duplas de contrários, como por exemplo, grosso e fino, quente e frio, luz e escuridão, etc. Mas o que seria positivo, o peso ou a leveza? Para Parmênides o leve é positivo, já o pesado é negativo.
"Teria ou não razão? Essa é a questão. Uma coisa é certa. A contradição pesado-leve é a mais misteriosa e a mais ambígua de todas as contradições."
Qual das duas formas de vida escolher? Essa é questão imposta no livro. Assim, Kundera ilustra seu questionamento apresentação o relacionamentos dos quatro personagens. A despreocupação  de alguns e o envolvimento de outros. Quanto mais pesada a vida, mais real ela é.






Livros de agosto

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Eu nem acredito que consegui alcançar minha meta e ler os quatro livros de julho! Em breve resenharei sobre alguns deles.

Agora, começou agosto e todo mundo sabe que é um mês eterno. Então, subi as expectativas e coloquei cinco livros na lista.

Estava morrendo de saudades de Sophie Kinsella e tinha uma mini coleção da série Becky Bloom. Descobri que tenho quatro livros e só li dois dessa série. Heresia, eu sei. Então vou me redimir e coloquei na minha lista.


As Listas de Casamento de Becky Bloom e A Irmã de Becky Bloom, ambos de Sophie Kinsella

Eu sou apaixonada pela Becky e me sinto mal pelo filme não ter virado uma franquia maravilhosa. Afinal, temos OITO livros divertidíssimos para acompanhar!



O Incêndio de Tróia, de Marion Zimmer Bradley

Comecei a ler esse livro há muito tempo. Nem sei o que aconteceu, mas tive que parar de ler. Agora, preciso terminar, pois esse livro nem meu é! Isso mesmo, sou uma pessoa péssima.





O Inimigo de Deus, de Bernard Cornwell

Tenho um caso de amor com o Bernard Cornwell. Descobri a "As Crônicas de Artur" pelo meu namorado. Ele me deu de presente "O Rei do Inverno" - que li há muito tempo e me encantei completamente -  e também o "O Inimigo de Deus". Quero ainda adquirir o "Excalibur" e encerrar a leitura.


A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery

Descobri esse livro no canal da Tatiana Feltrin (maravilhosa)! Ela classificou muito bem o livro e me interessei pela história.